Vamos (não) falar da Marie Curie?
Quando se pensa em mulher na ciência, qual nome vem a cabeça? Exato. Eu também. Marie Curie, Nobel em física e química, é um modelo de cientista pra homens e mulheres, com toda razão.
Mas porque devemos isso é um problema?
Um trecho de “We Need to Stop Ignoring Women Scientists”, por Rachel Swaby, em tradução livre:
“Embora as meninas recebam o mesmo número de créditos em matemática e ciências no ensino médio que os meninos — mesmo tendo notas um pouco mais altas -, apenas 21,5% das mulheres americanas que entram na universidade planejam se formar em ciências, tecnologia, engenharia ou matemática.
(…) Algo acontece no colégio para convencer as meninas de que, como mulheres, estariam deslocadas em ciências ou matemática e deveriam buscar áreas menos técnicas e profissões mais leves. Para elas, Curie não é um modelo. Ela é uma exceção brilhante e inatingível.
(…) Quando as meninas consideram química ou arqueologia, digamos, e encontram campos apinhados de homens, é difícil para elas imaginar que também há um banquinho para elas na bancada do laboratório. De acordo com relatórios do governo e contas pessoais, as meninas que buscam carreiras em STEM se beneficiam de “role models”. E eles existem. Eles estão apenas escondidos atrás da cientista feminina favorita de todos.“
Representatividade importa. Quando o nome que te vem à cabeça de cientista brilhante é um só, tão longe do seu país e da sua época de vida, é evidente que não vamos achar que ciência é coisa de mulher.
Meu relato pessoal: eu só fui considerar ciência como uma profissão depois de, por acaso, ler uma matéria sobre a Lisa Randall, física. Não que fosse uma surpresa que houvessem mulheres de sucesso na ciência, mas era algo tão distante do meu mundo que não tinha como passar pela minha cabeça como algo atingível.
E isso vai além de minorias. Quando se diz que o Einstein criou a relatividade e se ignora tantos outros nomes da física e matemática que tiveram trabalhos anteriores de importância pra construção da teoria, criamos uma figura mítica e inatingível.
Reforçamos a ideia de que a ciência é feita por gênios pontuais, e não o que realmente acontece: um grande trabalho colaborativo entre diversos países e até áreas de conhecimento. A ideia de ciência para poucos é boa pra quem, afinal?
Referências:
https://www.wired.com/2015/04/women-in-sciene/
https://en.wikipedia.org/wiki/General_relativity_priority_dispute
https://sheroesofhistory.wordpress.com/2014/03/27/badass-wimmin-of-history-presents-sophie-germain/