O futuro que os techbros querem

Bruna Shinohara de Mendonça
3 min readOct 9, 2023

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A tecnologia está aí, e é preciso de pessoas com domínio técnico E interesses em suas consequências pra lidar com isso.

Trecho do livro “Permanent Record”, autobiografia do Edward Snowden.

O uso de big data foi importantíssimo para a eleição do Trump e outros lideres de direita desde então. Usa-se quantidades enormes de dados pessoais para fazer direcionamento de conteúdo para pessoas e grupos estratégicos (recomendo esse podcast sobre).

A questão que eu trago sobre isso:

Você estava por dentro desse assunto?

Sabe que ainda é um problema?

Você teria conhecimento técnico para opinar ou sugerir algo?

Como um segundo exemplo, empregos e inteligência artificial. É comum ver discussões em que um lado diz que a IA vai tirar empregos, precisamos fazer algo sobre outro lado diz que a IA criará empregos, está tudo bem.

O problema com uma discussão assim? Ser totalmente qualitativa. Quais empregos serão extintos, quais serão modificados? Em que escala de tempo? A falta de nuance nesse debate o torna improdutivo.

Trecho do livro Artificial Intelligence, A Modern Approach, por S Russell e P Norvig, abordando o assunto de forma quantitativa.

Enquanto não houver tentativas sérias e bem informadas de se engajar com o assunto, quem é técnico vai fazendo as coisas da maneira que bem entende, potencialmente equivocada. É o caso dos preconceitos aparecendo em IA por viés de amostragem, por exemplo.

Todos temos vieses. Mas se o sentimento majoritário for simplesmente ser ludita quando a tecnologia se apresenta como um problema, não tem como estruturar argumentos ou soluções.

E falando em IA…

Como estamos? Conservadores.

Vejam aqui por exemplo a análise desse paper, que demonstra que Large Language models como o ChatGPT tendem a serem mais conservadores conforme aumentam em escala. Aqui dá pra interagir com os dados.

Com esses mesmos dados, dá pra ver que a tendência a autopreservação também aumenta. O que é o que a galera tem se preocupado.

Mas, de novo: a um prazo menor, a tendência é termos problemas sociais. Os problemas que já despontam atingem desproporcionalmente grupos vulneráveis: desemprego tecnológico, viéses.

As minorias acabam tendo que lutar por elas mesmas, porque colocar grupos para escanteio é muito fácil. Discuti um pouco sobre isso no texto “O que é assunto feminino, afinal?”.

A conveniência da cyberocracia

A cyberocracia é um conceito utópico de organização da sociedade onde ao menos parte das decisões governamentais seriam feitas por IA. Isso parte do pressuposto de que analises feitas por IAs serão “corretas” e imparciais.

Só que existe o problema dos viéses na IA. Esse não é um problema do futuro: isso já é visto em IAs usadas para selecionar candidatos pra vagas de emprego, aqui.

Agora, juntando as duas coisas: se existe uma “” de que a IA toma as decisões mais corretas possíveis, mas a sua IA está reproduzindo vieses, é muito plausível que a IA seja usada para validar e sustentar desigualdades.

Se pessoas que se beneficiam de privilégios ou pessoas indiferentes aos impactos negativos da IA com minorias são as ÚNICAS tendo voz e agência, a chance de nada ser feito é grande.

E veja, por exemplo, o Musk falando aqui que as IAs atuais são muito politicamente corretas, aqui. Nem preciso falar do tamanho da influencia dele.

Moral da históra: se você se importa, busque se inteirar nos aspectos técnicos desses temas. Porque eu duvido muito que os techbros irão.

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