Lise Meitner: física nuclear, resistência e injustiças

Bruna Shinohara de Mendonça
3 min readSep 21, 2023

--

Com física nuclear no imaginário popular graças ao filme Oppenheimer, bora conhecer quem é considerada a mãe dessa área da física, Lise Meitner? Além de um grande nome na física, sua história mostra como o caminho da mulher cientista no século passado era bem ingrato.

Lise Meitner esqcrevendo em uma lousa.

Lise teve problemas pra estudar desde cedo: nessa época, a Áustria não permitia que mulheres fizessem o ensino médio! Ela teve que esperar a proibição passar pra ir em frente.

Lise relata que, na opinião de seus colegas, mulheres eram consideradas abominações, mas também relata encorajamento por parte de alguns professores!

Ainda assim, muitos tinham dificuldades em aceitar mulheres. Mesmo Planck, cientista que eventualmente a aceitou como pos-doutoranda, achou que não fazia sentido que ela procurasse educação depois do doutorado!

O desenvolvimento da pesquisa também não foi fácil — durante a 1a Guerra, Lise foi enfermeira voluntária, trabalhando com raio X. Otto Hahn, seu colega, foi convocado. Mal conseguiriam trabalhar juntos.

Mesmo assim, tiveram um resultado show: a descoberta do Protactinium.

Otto Hanh e Lise Meitner.

Lise e o grupo tiveram progressos no entendimento da radiação Beta, mas aí chegou o terceiro Reich. Lise, judia, teve que fugir da Alemanha.

Foi para a Suécia e lá trabalhou com Bohr, ainda mantendo contato com Hahn. Durante seu período fora da Alemanha, Lise ficou sabendo de experimentos feitos pela Irene Joliot (filha de Marie e Pierre Curie) em que ela, ao bombardear Urânio, encontrou elementos semelhantes ao Rádio.

Isso era muito doido na época: um elemento se transformar em outro de núcleo mais leve não era muito bem explicado! E essa foi a grande contribuição de Lise e Otto: descrever esse fenômeno, que agora conhecemos como fissão nuclear. A dupla foi indicada QUINZE vezes para o Nobel!

Show, né? Mas quem disse que ela pôde ser apreciada por isso? Hahn não podia admitir que contribuiu com uma judia exilada. O Nobel veio, mas não pra ela.

Mas Hahn fez isso apenas pra protegê-la? Mais ou menos. Ele distorceu os fatos com relação a isso. Lise evidentemente não gostou, não apenas pela falta de reconhecimento pelas suas conquistas, mas pela postura de Hahn com relação ao regime nazista.

Hahn’s behavior in Sweden hurt Meitner personally, damaged her professionally, and contributed to her ongoing isolation in Sweden. There is no indication that he ever understood, or cared. In a personal autobiography many years later, he scrambled the facts, meaning, and emotional context of their discussions in Stockholm, retaining only the bitter aftertaste. On his first night in Stockholm, according to Hahn, I had quite an unhappy conversation with Lise Meitner, who said I should not have sen

Nas palavras da própria Lise, em carta para sua irmã:

Não dá nem para especular que a insatisfação dela foi por dinheiro: Hahn repassou parte do prêmio pra Lise, que por sua vez repassou para um comitê que lidava com questões éticas da física nuclear.

Einstein, líder desse comitê na época, agradeceu a doação:

Dear Professor Meitner: On behalf of my colleagues of the Emergency Committee of Atomic Scientists, I send sincere thanks for your generous help in the great educational task we have undertaken. We value not only the practical support you have sent, but also the good will towards this work and the hope for a reasonable solution of this immense problem which your contribution expresses. Cordial greetings, Albert Einstein

A história de Lise é não apenas um pedaço importantíssimo da história da física que não é muito falado, como é uma história de resistência.

Ps: a sua primeira aula foi chamada de “física cosmética” pela imprensa. É mole?

Referências:

Frisch, O. R. “Lise Meitner. 1878–1968.” Biographical Memoirs of Fellows of the Royal Society, vol. 16.

Sime, R L. Lise Meitner: A Life in Physics.

Rife, P. Lise Meitner and the dawn of the nuclear age.

--

--